O que é texto?
Segundo Cereja e Cleto (2017) – no livro Interpretação de textos: desenvolvendo a competência leitora, 6º ao 9º ano –, o texto é definido como um enunciado que, dentro de um contexto, adquire sentido para o leitor independentemente do tamanho que esse enunciado possui. Essa é uma definição bem simples e clara para qualquer sujeito que se depare com a afirmativa, mas será se ela contempla toda a complexidade que o texto possui?
Quando nos debruçamos a investigar a definição de texto, estudos voltados para entendê-lo e analisá-lo remontam há muitos anos. Segundo Batista (2016), um dos primeiros que se dedicou a refletir sobre o texto foi o gramático Quintiliano, ainda na Roma antiga. E não foi apenas nas ciências da linguagem que o texto se fez presente como categoria de investigação. Porém, mesmo com esse percurso histórico como objeto de análise, não existe um consenso sobre a definição de texto.
Ribeiro (2021) afirma que linguistas e outros estudiosos debatem sobre o assunto, mas nunca chegaram em uma resposta que agradasse a todos. Isso se dá tanto pela mutabilidade do texto com o passar dos anos quanto pelos campos de pesquisa que se debruçam em investigar tal fenômeno.
Beth Brait (2016), ao falar sobre as concepções de texto para Bakhtin e o Círculo, afirma que o texto era entendido principalmente como uma atividade interacional. Dessa forma, o texto era visto como um enunciado concreto e situado, era focado a partir dos elementos que lhe imprimem singularidade, como: “a carga de valores”, “a autoria”, “o destinatário” e as “relações dialógicas”.
Marcuschi (2008, p. 72), apoiando-se em Beaugrande (1997), defende que o texto é um “evento comunicativo em que convergem ações linguísticas, sociais e cognitivas”. Essa concepção, ligada à Linguística Textual, se aproxima da definição defendida por Koch (2018). Para ela, um texto é nomeado como tal quando em uma atividade comunicativa global, apresentada a partir de uma manifestação linguística, os sujeitos envolvidos conseguem construir, para ela um sentido. Mas, para isso acontecer, um conjunto de complexos fatores de ordem situacional, cognitiva, sociocultural e interacional devem atuar.
Dentro das abordagens funcionalistas, Neves (2016) afirma que o texto é uma unidade que relaciona os arranjos gramaticais e as condições de produção das práticas comunicativas.
O gramático-linguista Azeredo (2014) define de forma rápida e provisória o texto como qualquer segmento verbal que apresente uma unidade de sentido na interação comunicativa entre os sujeitos. E que, para ser entendido como tal, o texto possui um conjunto de propriedades que seguem três princípios básicos que atuam intrinsecamente, são elas: informatividade, codificação e adequação.
Dessa forma, partindo de alguns definições possíveis para o que seja texto, a abordagem que eu mais me identifico, provavelmente por identificação com esta subárea da linguística, é a da Linguística de texto. A maneira como Koch apresenta a complexidade do texto, para mim, é a melhor definição para esse objeto. Com isso reitero, o texto, para mim, é um objeto complexo em que atuam fatores sociocultural, situacional, cognitivo e interativo; e que, dentro de uma situação comunicativa, os sujeitos envolvidos constroem um sentido.
Todavia, muito além de concordar ou discordar sobre uma definição e outra apresentada pelas inúmeras subáreas da Linguística, acredito que todos contemplam de alguma forma a visão do que seja o texto. Principalmente, se levarmos em consideração o campo de investigação que se encontra cada uma das definições para esse fenômeno. O que podemos destacar a partir dessas afirmações e colocações apresentadas é que a definição exata para texto ainda está longe de se alcançar e, provavelmente, há pouca probabilidade disso acontecer. Como afirma Ribeiro (2021), a cada dia que passa, novos textos, principalmente nos meios digitais, vêm surgindo e sendo incorporados ao nosso cotidiano e uso. A complexidade e dinamicidade desse objeto acaba o tornando impossível de uma definição exata. O que nos instiga ainda mais a conhecer e nos aprofundar nos estudos do texto.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
AZEREDO, José Carlos de. Linguagem, discurso e texto. In: ______. Gramática Houaiss da língua portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2014. p. 67-108.
BATISTA, Ronaldo de Oliveira (org.). O texto e seus conceitos. São Paulo: Parábola Editorial, 2016.
CEREJA, William Roberto. CLETO, Ciley. Interpretação de textos: desenvolvendo a competência leitora, 6º ao 9º ano. 2ª ed. São Paulo: Atual, 2017.
KOCH, Ingedore Villaça. O texto: construção de sentidos. In: ______. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 2018. p. 25-30.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Processo de produção textual. In: ______. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial. 2008. p. 49-143.
RIBEIRO, Ana Elisa. Um prólogo sobre textos hoje. In: ______. Multimodalidades, textos e tecnologias: provocações para a sala de aula. São Paulo: Parábola. 2021. p. 11-17.

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